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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

LULA E OS ECONOMISTAS QUE QUERIAM SALVAR O BRASIL

Ao longo de sua história, os Estados Unidos, imbuídos de forte sentimento de interação e cooperação familiar, se organizaram com base em rígidos princípios luteranistas (livre exame da Bíblia) e calvinistas (a obra demonstra a graça), encarando o trabalho como uma das grandes virtudes do homem, bem diferente da elite portuguesa católica exploradora, de punhos rendados, que estabeleceu aqui uma colônia a serviço de seu reino, com ajuda de uma equivocada mentalidade religiosa, que submetia o pensamento discordante pelo castigo inquisitorial e impunha a todos o perverso sentimento de culpa.
Quando ainda hoje ouvimos militantes de esquerda falar em “sem medo de ser feliz”. estimulando companheiros à luta pela ascensão social, podemos aquilatar a dimensão desse jugo histórico que marcou a vida dos oprimidos.
Sabiam os americanos que sua e organização social e prosperidade decorriam do apego à ética, ao espírito de liberdade, solidariedade e fé aos princípios cristãos, entendendo que esses valores deveriam ser levados aos demais povos. Primeiro, enviando seus missionários, numa tentativa de combater o paganismo e práticas místicas em desacordo com os cânones cristãos. Mas a primeira e segunda guerras mundiais mostraram que o espírito guerreiro se fazia necessário também para o bom combate ideológico, rompendo suas fronteiras com potentes armas para impor sua democracia, em confronto com o comunismo ateu.
Finalmente, viram ainda que o processo democrático não poderia se sustentar sem um mercado livre, de acordo com a visão liberal de Adam Smith, regido pela lei da oferta e procura, ao espírito de homens livres, aptos a estabelecer e desenvolver o próprio negócio.
Em oposição ao estatismo e à mais valia do comunismo, o capitalismo percebeu a força da economia para exercer seu domínio com grandes corporações empresariais, comprando concorrentes em países emergentes, atraídos pelo poder do dólar, e aliciando lobistas e políticos para torná-los parceiros em seus interesses.
Com o avanço tecnológico, surge a chamada economia globalizada liderada pelo neoliberalismo, com o discurso falacioso de que a salvação para os subdesenvolvidos e emergentes só seria possível com a abertura total de sua economia, caso contrário ficariam isolados.
Dentro dessa nova ordem que se impunha, como por exemplo a tentativa da Alca no Brasl, eis que entram em evidência os iluminados da economia, empolgados e soberbos jovens formados nas grandes universidades americanas, afinados com sua política, assumindo a tarefa de salvação nacional.
A ditadura deu amplo espaço para eles, cada um vaidosamente defendendo o modelo de sua escola e fazendo do povo verdadeiras cobaias sujeitas a suas experiências. Roberto Campos, defensor do estado mínimo, queria que a Petrobras e outras empresas estratégicas fossem privatizadas, ganhando o apelido de Bob Field por ser um fiel parceiro dos americanos nessa empreitada. Delfim Neto, hoje menos arrogante, chegou a dizer que era preciso esperar o bolo crescer para depois distribuir à massa ignara. Mas o bolo só crescia para a elite. Mário Henrique Simonsen, o mais brilhante deles, foi outro, mas, no poder, não aguentou a dura cerviz da mentalidade castrense e resolveu pular do barco.
Lembro de uma passagem ocorrida em janeiro de 1974 entre ele e o presidente Ernesto Geisel, ao ser convidado para assumir o Ministério da Fazenda. Depois de ouvir Geisel expor as dificuldades do governo em relação à inflação, ao choque do petróleo e ao crescimento do país, o assunto resvalou para o polêmico mercado de capitais. Sem meias palavras, Simosen foi logo dizendo: -“Se o senhor quiser moralizar em cinco minutos o mercado de capitais, tem que transformar aquele pedaço da Praça XV num presídio”. É que ali funcionava a Bolsa de Valores.
Pois bem, um outro histórico momento sobre esses mandarins aconteceu em março de 1991, um embate intelectual de duas correntes econômicas antagônicas, a visão ortodoxa de Simonsen, professor da FGV, e a heterodoxia de Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp. Simosen, recorrendo ao filósofo empirista Francis Bacon (método indutivo), acreditava numa solução capitalista no combate à inflação, bastando seguir o receituário monetarista, controlando o fluxo da moeda, os juros e o crédito. Por isso criticou o Plano Collor II, que caminhava em sentido contrário. Reagindo em defesa da ministra Zélia Cardoso de Mello, Belluzzo afirmou, com ironia à erudição de Simonsen, que o filósofo empirista inglês (Bacon) já estava superado pelas idéias dos escocês David Hume e Carl Hempel. Houve até tréplica nessa fogueira de vaidade, com citações aristotélicas.
Para Roberto Campos, os defensores da Petrobrás sob a tutela do estado eram esquerdistas atrasados, verdadeiros petrossauros. O que diria agora quando o governo americano se vê obrigado a estatizar tradicionais instituições privadas?
Quem acompanha a história deste país, deve se lembrar que, depois da ditadura, em apenas cinco anos tivemos cinco choques econômicos: o famigerado Plano Cruzado de Sarney, o Plano Bresser, o Plano Verão, o Plano Collor I e o Plano Collor II.
Pois bem, com Lula no poder, sem nenhuma formação acadêmica ou brilho intelectual, essas figuras desapareceram do cenário e ficamos apenas com a prudência de Henrique Meirelles e a simplicidade de Mantega, mostrando, como disse Barbosa Lima Sobrinho, que economia se faz em casa. Por isso, mais independente dos Estados Unidos, vamos poder aguentar o tranco desse modelo da liberalidade especulativa em decadência.

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