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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O WIKILEAKS AVASSALADOR E NOSSA DIPLOMACIA DO “B”

O site WikiLeaks, criação genial e corajosa do australiano Julian Assange, escancara a hipocrisia do paranoico poder dos Estados Unidos e leva muitas autoridades mundiais a ter que se explicar diante de seus governos em razão de incômodos comentários contidos em telegramas e relatórios enviados por embaixadores americanos a Washington, agora vazados. Essa janela escancarada ao mundo quebra o poder da imprensa comprometida e mostra a dupla face da diplomacia americana pelo mundo, prestando um grande serviço à humanidade. Segundo a filosofia de Julian Assange, é saudável e necessário aguçar o espírito crítico, duvidar sempre da autoridade, dos governos e das instituições, investigar o que elas estão pensando e fazendo. Aproxima-se dos anarquistas: “Hay gobierno? Soy contra”.


Então, quando vejo o jornal o Globo tentando ridicularizar nossa diplomacia, chamando-a de “diplomacia do B e terceiromundista”, por não se dobrar aos americanos, lembro da frase do então embaixador Linconl Gordon, questionado pela esquerda por seu apoio ao golpe militar de 64: -“Os Estados Unidos não têm amigos, têm interesses”. Não precisava ser tão incisivo, dizer abertamente, curto e grosso, o que a consciência nacionalista já sabia muito bem. Só O Globo, que logo depois ganhou financiamento do grupo Time Life para implantar sua televisão, apostava numa relação carnal com os Estados Unidos, por isso sempre tratou o governo Lula com desprezo e críticas violentas, como faz com Celso Amorim na Diplomacia.


WikiLeaks mostra que a Diplomacia americana, por baixo das formalidade, não passa de base de espionagem no mundo todo, como ficou evidente no golpe militar em 64 com a atuação do embaixador Linconl Gordon. Lembro de outra frase, agora dita por uma raposa política brasileira, Juraci Magalhães, num almoço no Hotel Glória, no Rio, em homenagem à Câmara do Comércio Americana, cerca de dois meses depois do golpe: -“O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. O fotojornalista Armando Rozário, um chinês de Macau que estudou em Cambridge e escrevia no Macaé Jornal, estava lá fazendo a cobertura para o Jornal do Brasil ficou perplexo com a afirmativa, ainda por cima dita em inglês, para ficar mais clara a subserviência aos diplomatas e autoridades americanas, ali eufóricas com a homenagem.


De volta ao jornal, Rozário comentou com os colegas, que não acreditaram de plano. O assunto chegou à sala da Condessa Pereira Carneiro, que chamou Rozário para saber a veracidade da informação. Confirmado o fato, o Jornal do Brasil, depois de avaliar as possíveis consequências, em nome da até então liberdade de opinião resolveu enfrentar os riscos numa ditadura que já cassava políticos de esquerda e ameaçava jornais de fechamento, publicando com destaque o inusitado fato. O Globo, que nada publicou, tornou-se mais poderoso e o Jornal do Brasil, com uma bela história de independência por mais de um século, todos sabemos o que sofreu pelos anos seguintes.


Finalmente, um metalúrgico vindo da caatinga, sem nenhum diploma para lhe dar ares de intelectual, chega à presidência e vai aos Estados Unidos pela primeira vez, onde os americanos, certamente querendo causar embaraço e preocupados com o viés de esquerda de seu governo, logo lhe perguntaram: - “Qual a razão de se fazer acordo com a China?”. Sem se perturbar, o brilho da inteligência do ex-metalúrgico sujo de graxa, com sutil ironia lembrando Juracy Magalhães, deixa os “inquisidores” mudos: -“Eu não conhecia a China muito bem, até que o governo americano fez da China seu parceiro comercial preferencial. E eu pensei comigo mesmo: ora, se é bom para os americanos, deve ser bom para os brasileiros”.


O jornalista Carlos Castelo Branco, que manteve uma coluna no JB de 63 a 93, quando faleceu, fez um retrato do Brasil dependente em sua coluna, naquela época da diplomacia de punhos rendados em conluio com os americanos, dada a suntuosas festas regadas a finas bebidas e iguarias : -“O fato é que a crise de hoje é a crise de ontem: ontem, como hoje, o Brasil sempre foi uma empresa estrangeira de exportação de produtos tropicais... A crise que vivemos, fruto de uma conjunção política, econômica e social, tem um só nome: busca de autenticidade e unidade político-econômica para a população, para toda a população”. É exatamente o que o governo Lula começou a fazer no Brasil e deixa os grandes jornais de direita preocupados.

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