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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

REAÇÃO À ENTREVISTA DE GUTO

É natural e saudável que uma corrente do PT local, que certamente acredita no processo e na evolução política pela via dialética, tenha reagido à entrevista que Carlos Augusto Garcia (Guto) me concedeu como presidente recém-eleito do diretório municipal, quando considerou falta de coerência do partido manter aliança com a administração do prefeito Riverton (PMDB) e, ao mesmo tempo, ter um vereador na Câmara fazendo-lhe oposição, questão que pretende colocar em discussão para decisão da maioria.

Em tese, sem a pretensão de tomar partido, o que Guto fez foi simplesmente expor suas ideias, pensando no diretório com mais presença e, por conseqüência, mais visibilidade na comunidade, visando aprofundar o nível de consciência política de sua militância no sentido de melhor se preparar para estar mais próxima de sua base popular e, com isso, gerar mudanças. E que, como o presidente Lula aprendeu na dureza da luta, é preciso, muitas vezes, contar com alianças e fazer concessões para alcançar alguns objetivos, sem abrir mão dos princípios que embasaram a existência da sigla.

É evidente e necessário que o político defenda e assuma uma postura firme em relação aos cânones que regem seu partido, ainda mais na crise ética que atravessamos. Mas é preciso, também, discernimento para separar a paixão que cega e o individualismo que divide, muito comuns no mundo da doxa, da opinião, que se baseia em juízo subjetivo de valor momentâneo, precário, sem o rigor do que na filosofia platônica se chama episteme. Afinal, é bom que se coloque em prática a arte do diálogo, da contraposição de ideias que conduzem a outras ideias, porque, como disse Heráclito há cerca de 2.500 anos, tudo flui, que o mundo está em perpétuo movimento, como o pensar. Portanto, postura personalista petrificada, centrada no ego, se perde na história, se opõe à dinâmica racional hegeliana da tese-antítese-síntese, um ciclo que gera o novo. Aliás, ao aprofundar sua explicação sobre as coisas a partir da ideia, Hegel chegou a dizer: -“Se dois acontecimentos são cronologicamente simultâneos, nada impede que em minha mente eu pense na prioridade de um em relação ao outro”.

Então, como convém aos que têm sentimento e pensamentos nobres e desejam transformar o país começando por aqui, é bom que as diferenças sejam discutidas como pregou Guevara na dureza da Sierra Maestra: -“Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás”. E isto se faz no campo das idéias, de forma clara e aberta, tendo o cuidado de não deixar que o “eu” seja o objeto de disputa em acalorados questionamentos verbais. Quem já está preparado para esse tipo de postura há que se dispor ao diálogo, ao contraditório, no ambiente mais adequado. Ora, como a unanimidade é encarada como burrice, pressupondo subserviência, indiferença ou ignorância, então é natural divergir, mas com nobreza de espírito, porque a tarefa de pregação ideológica é dura e o campo está à espera de quem deseja lançar a boa semente e colher seus frutos no tempo próprio.

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