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sábado, 23 de janeiro de 2010

AMERICANOS TOMAM O HAITI

Como caminha a humanidade, tudo indica que aquela visão profética de Isaías (Bíblia: cap. 65 e vers. 25), há cerca de 2.700 anos, de que um dia “haverá uma nova terra, onde lobos e cordeiros pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi ...” vai continuar como um sonho, assim como uma sociedade ideal, em absoluta comunidade de bens e de solo, pensada satiricamente por Thomas Morus em crítica ao fausto, à vassalagem e ao parasitismo da corte inglesa, será sempre uma mera “Utopia”.

A história da colonização da América Latina é uma tragédia, reflete a perversa mentalidade dos civilizados europeus que, empunhando a cruz, símbolo do cristianismo, dizimaram milhões de seres humanos, em seu estado de pureza natural, para impor sua língua, sua cultura, religião e, principalmente, pilhar as riquezas que encontraram.

Por trás da tragédia do Haiti há colonizadores espanhóis e franceses que, além do genocídio indígena, tiraram levas de negros do seio de várias comunidades africanas para o cruel trabalho escravo. Depois de dois séculos de sofrimento, uma violenta revolta de escravos conquista sua liberdade em 1804 do jugo francês. Mas, sem nenhuma estrutura organizacional, pouco adiantou, porque dezenas de ditadores e golpes se sucederam, muitos deles apoiados pelos Estados Unidos, que também ocuparam o país de 1915 a 1934 com seus bem treinados fuzileiros.

Com a ascensão de François Duvalier à presidência em 1957, o antes médico que tratava com afeto seus pacientes, ganhando do povo o carinhoso apelido de Papa Doc (papai médico), acabou expondo suas garras para se manter no poder até 1971 como um dos mais sanguinários ditadores. Exterminou políticos desafetos, fechou jornais e rádios e executou seus proprietários. Manteve o povo sob o terror do Vodu e de seus terríveis Tontons Macoutes (bichos papões), que pertenciam a sua Guarda pessoal. Em 1964, alterou a Constituição decretando poder vitalício. Ao morrer em 71, foi substituído pelo também perverso filho Jean Claude, Baby Doc, que, deposto em 1985, ainda vive na França com a riqueza pilhada do país.

Bem, finalmente, o Haiti teve sua primeira eleição realmente livre (1990), conduzindo à presidência o ex-padre salesiano Jean-Bertrand Aristide, símbolo da esperança do povo e partidário, como o brasileiro Leonardo Boff, da Teoria da Libertação. Lutando para atenuar a miséria do povo e adotando medidas contra a corrupção e a falência da economia, perpetrada pelos Estados Unidos, foi deposto por golpe militar oito meses depois, que segundo Mark Weisbrot, doutor em economia pela Universidade de Michigan, tinha o apoio da CIA por trás, como aconteceu com o golpe contra Hugo Chávez na Venezuela em 2002. Retornando ao poder, Aristide foi novamente deposto, seqüestrado e exilado na África do Sul pelos Estados Unidos.

Eis a razão pela qual, com supostos fins humanitários, os americanos voltam ao Haiti e exibem seu humanismo com navios, aviões, tropas e armas, mas tomam de assalto o principal aeroporto e controlam o tráfego aéreo, dificultando o acesso das aeronaves do Brasil e da França, carregadas de medicamentos e alimentos.

Para os americanos, que têm prisão em Guantánamo (Cuba), base na Colômbia, na Costa Rica e estão matando, em nome de sua democracia, milhares de pessoas no Afeganistão e no Iraque, é mais confortável manter um ditador com seus dólares do que uma democracia que enxerga longe. Honduras é outro exemplo, pois já foi base para os ataques dos Contras à Frente Sandinista que derrubou o ditador americanista Anastácio Somoza na Nicarágua. O golpista Roberto Micheletti que derrubou Manuel Zelaya certamente teve apoio da CIA, que controla os generais com seus dólares.

E o jornal O Globo ainda vem criticar a diplomacia brasileira pela sua tentativa de restituir a democracia naquele país. Inclusive, sobre a brilhante atuação do Brasil no Haiti, seu editorial de 20/01 teve a petulância de dizer: -“Nem uma catástrofe como a do Haiti foi capaz de livrar a diplomacia brasileira do cacoete de cultivar picuinhas com os Estados Unidos, derivado do antiamericanismo latente em setores do governo Lula” – fecha o pano para essa nojenta subserviência e menosprezo à nossa pátria.

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