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quinta-feira, 6 de maio de 2010

TRABALHEI COM UM EX-CAPITÃO QUE MATOU CINCO SOB TORTURA

- ELES AINDA ESTÃO POR AÍ, FALTA APENAS AMBIENTE PROPÍCIO -

Quando ministros do Supremo Tribunal Federal, no conforto de um ambiente refrigerado e atapetado, sob a negra beca, decidem considerar os torturadores da ditadura também anistiados e, portanto, livres de qualquer penalidade, embora praticantes de crimes hediondos imprescritíveis, como define a Constituição, lembro-me de um caso que coloca altas patentes militares, ou a própria instituição, em situação irrefutável de total envolvimento com o que acontecia em seus porões.

Em 1975, quando terminava faculdade em Campos, fui assessorar o superintendente da então Telerj, que administrava as telecomunicações de Casimiro de Abreu a Bom Jesus do Norte. A representação sindical era comandada pelo senhor Niebus, com sede no Rio de Janeiro, um coroa simpático, sempre em postura de humildade, que a ditadura manteve por muitos anos na presidência da entidade. Certo dia, no início dos anos 80, transferido do Rio de Janeiro, chega a Campos seu filho, Dalgio Miranda Niebus, sujeito de boa compleição física, comedido em sua relação com os funcionários da Seção Técnica, onde começou a trabalhar.
Não demorou muito, chegou, via sindicato da região, a informação sigilosa de que Dalgio não era um funcionário de carreira, mas um ex-capitão do exército condenado pela Justiça Militar a mais de 80 anos de cadeia por torturar quinze jovens soldados. O fato aconteceu em 1971(governo Médici), quando Dalgio tinha 29 anos e chefiava a 2ª. Seção do estado-maior do 1º BIB (1º Batalha de Infantaria Blindada), com sede em Volta Redonda, sob o comando do tenente-coronel Gladstone.

O caso só veio a furo porque um padre que havia sido preso no batalhão ficou sabendo e denunciou ao bispado, que de tão horrorizado apelou ao comando do Exército para se informar melhor e exigir punição dos culpados. O então capitão Dalgio fazia investigação sobre uso de maconha no quartel e chegou a prender quinze soldados de 19 anos. Com apoio de subalternos, levou-os para um prédio do quartel e ali fez de tudo: choques elétricos, palmatórias, pancadas com barra de ferro, socos, chutes e esmagamento de pés e cabeça de alguns num torno. Cinco deles morreram e o comandante arranjou um jeito de encobrir os crimes, mas, diante da pressão da Igreja, um inquérito militar foi aberto. Sob segredo de justiça, e o grupo condenado. As penas foram altas, mas ninguém ficou mais do que seis anos na cadeia. O capitão Dalgio, por exemplo, ainda ganhou um emprego na Telerj.

Sem nenhuma relação ideológica, esta monstruosidade mostra que, sob o manto do AI-5 e da ordem presidencial de matar todos os comunistas, grande parte dos militares, em nome da pátria e da liberdade, sentia-se à vontade para mostrar serviço. O brigadeiro Burnier, por exemplo, planejou explodir o gasômetro no Rio para depois iniciar uma caçada a muitos políticos por ele listada e lançá-los no mar. Só não conseguiu porque o capitão Sérgio Macaco, do Parasar, não concordou em participar desse plano sinistro. A bomba no Riocentro, que explodiu no colo do sargento Rosário e ao lado do capitão Wilson num Puma, foi outro plano sinistro felizmente fracassado, que visava a causar pânico e muitas mortes por pisoteio na multidão no show em homenagem ao dia do trabalho.

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