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quinta-feira, 23 de julho de 2009

GAY TALASE E O DENUNCISMO IDEOLÓGICO

Assim como os gregos antigos em suas tertúlias filosóficas no areópago, sempre atentos e abertos às últimas novidades, aqui no cone sul as atenções voltaram-se para o jornalista e escritor americano Gay Talase, anunciado como o pai do new journalism, uma idéia que propõe um estilo mais leve, bonito e atraente na arte de escrever, fugindo do que é padrão hoje nos grandes jornais, a contundência do denuncismo em nome da transparência e da imparcialidade.

Entretanto, quem é politizado e acompanha com visão mais acurada os grandes jornais daqui sabe que há algo mais entranhado em seu jornalismo investigativo e nas análises de seus colunistas especiais, que tentam manter uma aparente isenção na abordagem dos fatos políticos e dos dados econômicos. O feroz ataque ao senador Sarney e sua família, por exemplo, tem um objetivo mais à frente, a disputa eleitoral que pretende trazer de volta a turma de FHC, uma figura política que se afina mais com os punhos rendados da elite afinada com o neoliberalismo ardorosamente defendido pelo falecido economista Roberto Campos (Bob Field), autor do volumoso “Lanterna na Popa” (de quem?).

Sarney político vem desde 1954, festejou e se deu bem na ditadura como parlamentar oligárquico e ampliou sua rede de negócios escusos e o compadrio quando presidente da República, sob o silêncio do sistema Globo. Toda sua prole ficou rica fazendo política de atrelamento ao poder, qualquer que fosse, ao longo de cinco décadas e meia, enquanto a miséria se expandia em seu Maranhão. Portanto, sua biografia, ou melhor, sua folha corrida é extensa e muito bem conhecida dos grandes jornais. Suas secretas falcatruas ganharam mais notoriedade agora, quando se coloca como aliado de Lula.

A liberdade e a imparcialidade do analista e do jornalista, atendo-se aos dados e aos fatos, têm seus limites e nuances estranhas, dependendo para quem eles deduzem e escrevem. Basta ver as conjecturas de Míriam Leitão sobre as ações do governo do ex-metalúrgico. Depois de Lula dizer que não lê sua coluna, em razão do habitual pessimismo, preferindo a de George Vidor (no mesmo jornal), ela passou a ser mais contundente e pessimista em relação a tudo o que a administração federal faz. O Banco Central reduz a taxa Selic para 8,75%, reflexo da tendência no avanço e equilíbrio da economia, mas ela prefere dizer que é ainda uma das mais altas do mundo, embora FHC tenha deixado o governo com 25% de juros. Merval Pereira segue a mesma linha, prevendo sempre dias nebulosos e sujeitos a tempestade. Para eles, não há nenhuma virtude, nenhuma atitude inteligente no governo, e alguma coisa boa que surge é obra do acaso, da conjuntura internacional ou herança do que foi feito nos oito anos de FHC. Toda medida tomada tem fundamentação populista, caráter protecionista ou equívocos que podem afetar o mercado no futuro. Na essência de suas matérias há o dolo, a intenção de desgastar a imagem política com vista a mais uma eleição. São piores do que aquele náufrago anarquista que chegou a nado na praia e perguntou: Hay gobierno? Soy contra. Mas a caravana segue e os latidos vão ficando cada vez mais distantes.

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