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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O que há sob a cor da epiderme

Enquanto Osama vive refugiado provavelmente em cavernas nas escarpadas montanhas do Afeganistão, para frustração de Bush, que colocou grande parte de seus agentes secretos em seu encalce, oferecendo ainda US$ 50 milhões para quem apontar seu esconderijo, continua repercutindo em todos os meios de comunicação a eleição do jovem Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos.
Contrariando o que esperava o assassinado líder negro Martin Luther King (que um dia todos sejamos julgados pelo nosso caráter e não pela cor da pele), muitos aqui, ainda deslumbrados pelo espetacular fato histórico, dão exagerada importância à questão racial. Alguns mais enraizados nesse aspecto, talvez no fundo agasalhando um certo racismo às avessas, não perdem a oportunidade de alimentar um equivocado saudosismo ancestral, evocando e exaltando valores culturais da "Mama África".
A respeito, lembro-me de dois momentos que merecem uma aprofundada reflexão para melhor análise do registro histórico e percepção da dinâmica religiosa ao longo do tempo que dois grandes líderes negros expuseram sem nenhuma preocupação socilógica com os críticos de plantão e os radicais que não enxergam além da periferia da epiderme: Quando esteve na África com Mandela num grande evento político, o então presidente Bill Clinton, em nome de seu país, pediu desculpas aos africanos pelo longo período de escravidão. Mandela, com a pureza e a integridade de seu caráter, respondeu que não precisava, porque milhares de africanos foram mandados para a escravidão por seus próprios "irmãos" de cor. Outro fato aconteceu no Brasil com Desmond Tutu, quando, visitando a Bahia, foi levado a centros de candomblé, naturalmente para saber que as raízes africanas continuavam ainda vivas em outro continente. Mas ele simplesmente, como cristão, disse que vários países africanos já haviam deixado de fazer sacrifício de animais em suas reverências espirituais. Quer dizer, já haviam abandonado rituais primitivos de seus cultos.
A escravidão é uma dolorosa mancha em nossa história e o racismo subjacente talvez se reflita de vez em quando por razão meramente pela rejeição social. Por outro lado, infelizmente, a decantada "Mama África", formada por muitos países, culturas e inúmeras etnias, não é hoje um exemplo de humanismo, pois a crueldade de muitos de seus ditadores não perdoa mulher e nem crianças, massacradas pela busca de poder e riqueza.
A gente sabe que a história narrada pelo dominador esconde valores e fatos importantes que enobrecem e enriquecem a vida do dominado, mas a opinião de uma autêntica líder comunitária como Tia Maria, fundadora do Império Serrano, coloca essa badalada questão racial, biombo para muitas tolices, num plano de grande percepção e sabedoria. No dia 20, Dia da Consciência Negra, em homenagem ao líder Zumbi, ela vai reunir a família no Império Serrano para uma festa. Mas foi logo avisando: "Esse negócio de dia do negro é besteira. Prova que o racismo continua. Por acaso, existe dia do branco?"
Então, como intelecto, ideologia, caráter e espírito não têm cor, há que se buscar outros conceitos e princípios para avaliar a importância e o valor de alguém. Aliás, no espírito de Martin Luther King, foi assim que Barack Obama enfatizava em seus discursos e desejava que todos os americanos o julgassem.

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