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quarta-feira, 18 de julho de 2012

INSPIRADOS NO POETA CASIMIRO DE ABREU



A educadora Helena Sardenberg e fotógrafa Susanne Reimann, felizes pelos bons resultados




Acompanhado do fotojornalista Armando Rozário, estive no final de semana em Barra de São João, na casa onde viveu Casimiro de Abreu, hoje transformada num museu sob a diretoria de Célia Azevedo, à margem do Rio São João, que preserva o acervo do poeta romântico em devaneios chorosos pela “infância querida que os anos não trazem mais”. E foi ali que encontrei jovens estudantes, inspirados no poeta das “tardes fagueiras, dos sabiais nas laranjeiras”, expondo suas criações poéticas exaltando a natureza e a mostrando preocupação com sua preservação.
      
E foi ali também que vi duas mulheres felizes com o resultado do seu trabalho, jovens que se descobriram capazes de colocar suas ideias e traduzir seus sentimentos em forma poética, além de exercitar o espírito crítico e olhar sua terra com outra visão.  São duas mulheres apaixonadas pelo desenvolvimento cultural: uma, a suíça Susanne Reimann, dedicada à arte fotográfica e à luta pela preservação ambiental;  a outra, Helena Sardenberg, uma educadora que, mesmo depois de aposentada, continua envolvida com a arte de lapidar inteligências e fortalecer personalidades em formação. Susanne, poliglota e também pianista, com vasta biblioteca em sua casa, resolveu deixar o frio de sua bela Suíça e vir morar aqui nos trópicos, escolhendo a simplicidade e o bucolismo de Barra de São João, sempre tentando, com pouco sucesso, sensibilizar a alma dos políticos locais para um importante trabalho de propagação turística com sua arte. Daí surgiu a ideia da professora Helena se juntar a ela e realizar projetos em conjunto, como esse.

Armando Barreto - Esse projeto de vocês com os estudantes tem um nome interessante, Oficina de Redação, que dá ideia de provocar e dar trabalho à cuca na arte de pensar, não é isso?

Helena Sardenberg - É isso mesmo. Iniciamos em 2009, com a proposta de estimulação ao desenvolvimento de atividades em leitura e escrita, de uma forma bem dinâmica. Assim, esse trabalho pretende algo abrangente, o direcionamento do olhar para a atualidade, o resgate de fatos históricos, sociais e culturais, bem como o estímulo à discussão de temas variados e o trabalho com a ampliação e a síntese de textos, a análise crítica, a autocrítica e a produção pessoal. O objetivo geral é valorizar o empenho pessoal na criação de textos, trabalhando forma e conteúdo, de maneira integrada e harmônica, mantendo o interesse e a qualidade da produção do participante da Oficina de Redação.

AB - Então, além do enriquecimento pessoal, isso tem muito a ver com a comunidade.

Helena - Isso mesmo, temos objetivos específicos, como a afinidade com a comunicação e o cuidado com a oralidade e a escrita, a fim de qualificar toda e qualquer situação da vida cotidiana.
A oficina mantém um intercâmbio constante e estimulador entre todos os participantes, estando aberta durante o período de março a dezembro, na Biblioteca  Municipal Carlos Drummond de Andrade. A freqüência é às 2as. 3as. feiras, no período das 11h30min às 14h30min, com atendimento a três grupos diferentes (2º grau). É um trabalho voluntário que atende, gratuitamente, a qualquer pessoa que queira efetivamente participar.  Por acreditar que a educação e cultura fortalecem os vínculos entres as pessoas, as épocas e os saberes, entendemos que é possível a criação de verdadeiras comunidades de ensino-aprendizagem, organizadas e implementadas, com o intuito de ampliar o mundo para todo aprendiz.

AB - Mas, sem apoio financeiro efetivo, como vocês se viram?

Helena - Estamos ainda capengando em termos financeiros para outras ousadias que temos em projeto. Por exemplo, a Suiça tem grande interesse em apoiar projetos culturais e de preservação ambiental. Como Susanne é de lá e tem contato com entidades daquele país, esperamos que com a Sociedade Cultural Suíça-Brasil vamos abrir um canal que irá nos ajudar, principalmente depois que Susanne enviar o material do trabalho que vimos realizando com grande sucesso.



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VIDA ( Airton Clercq de Almeida / 17 anos)

A vida é como um rio:
sempre há interferências em seu trajeto.
É, às suas margens,
que se veem as consequências.

Quando nos acomodamos,
nossa vida sofre uma estagnação.
É para que saibamos que, uma vez ou outra,
teremos que diferenciar nossas ações.

A água que banha um,
outro não banha.
Não é possível voltar ao passado
e revivê- lo.

Uma vez,
tendo a nascente sido prejudicada,
prejuízos se espalharão por todo o rio.
Assim, também, é na vida.

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EU E O RIO (Claudio Verli de Almeida / 42 anos)

Ele sempre se renova
trazendo alegria ou tristeza por onde passa.
O seu caminho é nostálgico.
Sento-me na ribanceira
vendo que divide, impondo fronteiras,
sem que, com isso, tome partido.
Pelo contrário,
tal mãe entre dois filhos,
não faz distinção.

Cruzo-o em meu percurso.
Minha impetuosidade
desrespeita as fronteiras impostas.
Tem anos de existência e eu, poucos.
Os antigos retratam-no com reverência,
sinalizando nossa dependência.

Dessa época para cá,
alguma coisa mudou (e muda).
Mergulhar em seu ser traz novidade.
Em seu curso,
vejo uns a favor e outros contra.
É certo nas suas idas e vindas:
ora traz, ora leva; ora enche, ora esvazia.
Há importância nesse leva e traz.
Permite-me comparar
com o curso da minha existência:
ora doce, ora salgado; ora cheio, ora vazio.
Mas... estamos vivos!

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ENCONTRO COM O RIO (Thayná de Almeida Ferreira / 16 anos)

Sentada no banco, à margem do rio São João,
debaixo da sombra de uma aroeira,
envolvida pelos seus galhos repletos
de pequeninas frutas de um tom vermelho-escuro,
sinto-me em comunhão com a natureza.

Comparo minha vida com o rio.
Às vezes, ele está calmo, outras, agitado.
Tem hora que não se movimenta
nem para trás, nem para a frente.
Nunca é o mesmo; está sempre mudando.

Quando sento à beira do rio,
busco apreciar cada movimento, cada detalhe:
a água, a vegetação, os animais.
Fico feliz por estar nesse lugar
que, a tanta gente, encanta.

O rio é como nossa vida,
sempre traz novidades.
Mesmo que não encontre algo diferente,
busque ir mais longe, cada vez mais...
Veja a vida com um novo olhar.

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RIO SÃO JOÃO (Luiz Sergio Gomesm / 53 anos)

Maravilhoso rio São João.
Revela exuberância e beleza
da nascente até à foz.
Idas e vindas das marés,
as intempéries ao longo dos anos.
Nada lhe tira o vigor.

Inconsequentes, mesquinhos e gananciosos,
desnudam-no,
retirando-lhe a mata ciliar, seu mangue e seus bichos,
aterrando-o com dejetos.

Berçário de múltiplas espécies
que ao homem apetece;
suas águas nos dão de beber e nos alimentam.

Há tempos, o rio clama:
"Muitas espécies dependem de mim;
já não me respeitam mais.
Deixem-me viver !
Quem sabe, um dia, poderemos coexistir ?"

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A NATUREZA TOMA O CONTROLE (do ponto de vista de uma janela)
(Lucas Leal da Silva Cavalcanti / 19 anos)

Eis a reação da natureza
quando o homem invade o seu espaço.
Por mais que me abata,
e ainda que agora
meu canto não fora respeitado,
e, contudo, meu interior fique abalado,
cheguei à conclusão:
tomarei o controle.

Avanço, sorrateiramente,
mais discreta que a gente
que tanto me destroçou.
Assim, digo que a desculpa acabou.
E, portanto, invado sem piedade.
Com minha intrusão, mostro a verdade,
mesmo que resulte em danos,
e os homens, enfim, "entrem pelos canos".

Não há maIs tempo a perder:
a retomada começou.
O verde toma o lugar do concreto.
No começo, acham bonito
o tanto que valoriza o local.
Mas o que parecia uma maravilha,
toma-se por praga.
E a retomada - enfim - acabou.

O equilíbrio é inevitável.
A opinião externa é suportável.
No meio do caos,
uma pequena clareira: a janelinha.
A natureza, por deixar a brecha,
que emerge tão rápido como flecha,
que não tarda a perguntar:
- Será que ainda é um bom lugar para morar ?

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À BEIRA DO MAR (Welerson da Silva Hermógenes / 17 anos)

Um homem solitário a pescar.
Esvazia a mente
ao olhar para o mar.
Vendo aquela imensidão,
reflete sobre o seu dia
e sente um pouco de alegria.

Paciente, espera pegar um peixe.
Mas percebe que, se não cuidar do mar,
peixe algum irá pescar.

Isso desperta o homem
para novos aprendizados
que não podem ser perdidos.