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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A VIOLÊNCIA COMO REAÇÃO: A SOCIOLOGIA EXPLICA

Já não existe mais nos morros barracão de zinco e nem o malandro, batedor de carteira, com suas gingadas e tiradas espirituosas compondo o romantismo das noitadas dos anos 50 e 60, quando os excluídos respeitavam os ricos dos bairros chic e se conformavam com sua condição. O expressivo crescimento populacional nos morros diminuindo os espaços, a introdução de drogas/armas, jovens fora da escola, os meios de comunicação e a indústria cinematográfica americana estão na base dessa transformação social que hoje assusta a todos. Séculos de domínio e exclusão social finalmente são expostos de forma violenta no asfalto, estremecendo a força policial que sempre esteve a serviço do capital e do poder, colocando em polvorosa a chamada sociedade organizada.

O então governador Leonel Brizola e o humanista e antropólogo Darcy Ribeiro tentaram conduzir esse processo por outro caminho, propondo um modelo de escola em tempo integral, onde a criança, filha do pobre ou do rico, teriam direito à alimentação, esporte e educação de qualidade. Mas a mídia do capital, políticos de direita maldosos e governantes míopes conseguiram impedir sua expansão e desfigurar sua filosofia, alegando ser uma estrutura cara. Então, se os jovens pobres de há 20 anos atrás estivessem nesses Centros Integrados de Educação não seriam hoje agentes do tráfico desafiando a polícia como mocinhos vistos no cinema. Pagamos hoje o preço dessa perversa política.

A mídia conseguiu disseminar o preconceito em relação ao projeto de Darcy Ribeiro, a ponto de uma secretária de educação da prefeitura de Macaé, em entrevista ao Macaé Jornal, ao ser questionada sobre o baixo número de alunos em alguns Ciep`s, alegou que mães e seus filhos não queriam se matricular neles porque eram escola de “garotos de rua”. Ou seja, gentalha da periferia com a qual não deveriam estar juntos. E nada fez para mudar isso.
Comandantes militares e governadores que se vangloriam de combater a corrupção nas corporações expulsando centenas de policiais que cometem crime estão, na verdade, contribuindo para aumentar o efetivo do tráfico de drogas. Sem outra qualificação profissional, a formação de milícias foi uma alternativa que encontraram, a princípio toleradas por combater traficantes que impunham terror nos morros. Certamente estão agora unidos em defesa do movimentado mercado das drogas. E como lidam com policiais corruptos e sabem que políticos enchem os bolsos com o dinheiro do contribuinte, que empresários sonegam, comerciantes furtam no preço e que magistrados, apesar dos altos salários, metem também a mão, a bandidagem entende que estão todos na mesma nau dos insensatos. Todos têm culpa.

Diante do caos, é preciso que o Congresso crie leis mais duras e a polícia, além de seu poder de fogo, ponha em prática um sistema de inteligência e informação para que o país não siga o exemplo do México. Resta-nos esperar que uma nova ordem surja com o governo Dilma Rousseff, que muito enfatizou em sua campanha o desejo de acaba com a miséria e colocar a educação como um dos principais desafios.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ALAIN TOURAINE: UMA DECEPÇÃO

Os dois bem sucedidos governos de Lula e mais agora a eleição de Dilma Rousseff estão deixando a direita bastante insegura e até mesmo desnorteada, sem saber como vai ser daqui para a frente, com suas lideranças pensando até mesmo numa aliança com o PMDB, até então visto como corrupto e fominha por cargos no governo.

Depois do escritor peruano Mario Vargas Llosa (prêmio Nobel de Literatura 2010) em São Paulo para enaltecer as virtudes do liberalismo e da democracia, atacando as forças de esquerda, agora trouxeram o famoso sociólogo francês Alain Touraine para falar sobre “Queda e renascimento das sociedades ocidentais”. Segundo O Globo, ele “mostrou temor de um retrocesso no Brasil, após a eleição de Dilma Rousseff, e fez um alerta sobre o autoritarismo de segmentos do PT”, com a “absoluta convicção” de quem está lá dentro do partido convivendo com a companheirada.

Ora, ao ler os trechos a seguir de sua entrevista ao supracitado jornal, que fez a campanha de Serra e não adiantou, fica evidente que Touraine foi emprenhado pelo ouvido por FHC e seus seguidores do PSDB: -“Não sabemos o que acontecerá daqui para a frente. A nova presidente (Dilma) foi inventada por Lula... o perigo de um retrocesso existe... a ideia de Dilma esquentar a cadeira por quatro anos para Lula também me desagrada... em uma democracia não pode haver presidente interino”. E mais: -“O Brasil tem um sistema político horrível, corrupto. Fernando Henrique Cardoso, em seus oito anos de governo, construiu as instituições”.

Quanta “sociologia” desperdiçada! Por dinheiro e submissão ao capitalismo excludente dos poderosos, há muitos velhos sociólogos maculando suas biografias. Uma pena que Touraine, em seus 85 anos, tenha se deixado levar pelo choro dos derrotados, que estão necessitando de uma palavra de consolo. Para o vaidoso e ácido cineasta e jornalista Arnaldo Jabor, por exemplo, nada mais tem sentido depois da derrota acachapante da esquerda. Inconformado, diz que “entre Machado de Assis e Eça de Queiroz sempre preferi o português ao nosso grande mulato”. Evocando Eça e criticando o Congresso Nacional, cita: -“O país perdeu a inteligência e a consciência moral”. A derrota faz um tremendo mal, não acham?

sábado, 6 de novembro de 2010

A ROBÔ DE LULA DERROTOU SERRA E O PAPA

Depois de 510 anos de domínio dos machos e de recentemente ter deixado o avental todo sujo de ovo na coz\inha, a história brasileira registra o feito mais espetacular de sua política, a eleição da primeira mulher como presidente da República, deixando atortoada a direita conservadora que, além da central de boatos e difamações armada com a TFP, monarquistas, integralistas e radicais religiosos, ainda foi buscar no Vaticano, em desespero de última hora, através de bispos da CNBB, apoio do Papa Bento XVI, coisa jamais vista no Brasil e no mundo.

A robô, boneca, ventríloqua, inexperiente, autoritária, aborteira, sem traquejo de palanque e clone de Lula, como a tratavam os líderes da oposição (PSDB-DEM) e assim disseminava O Globo e a Folha de S. Paulo, mostrou personalidade forte, domínio absoluto de seu papel e plena convicção sobre suas propostas, encostando nas cordas o adversário que se vangloriava de possuir a mais extensa e rica biografia, além de amplo conhecimento de economia para continuar as conquistas do governo Lula e poder fazer muito mais.

Antes de Lula, todos se lembram que o poliglota e sociólogo Fernando Henrique era também anunciado como o mais preparado, mas foi o ex-metalúrgico, oriundo dos cafundós de Pernambuco e sem diploma universitário, quem mais brilho e sustentabilidade deu ao país e que, graças ao seu legado reconhecido por 83% da população, ainda consegue eleger uma uma mulher, ex-guerrilheira que na flor da idade ficou no país arriscando a vida em defesa da liberdade e não fugiu como Serra, que, no encerramento da campanha, de forma patética teve a ousadia de declamar, com empolgação e fervor patriótico, verso do Hino Nacional: - “Verás que um filho teu não foge à luta/ nem teme, quem te adora, a própria morte...”. Só que o filho fugiu para o Chile.

Pois bem, não adiantou Serra pretender uma auréola de fervoroso religioso lendo Bíblia, espalhar calúnicas e difamações via microblogs, desviar o curso da campanha para assuntos com incitação religiosa, sua esposa visitar mineiros no Chile e nem mesmo ter apoio da revista Veja e dos jornais O Globo e Folha de S. Paulo, porque o povo não é bobo e soube avaliar a diferença entre os oito anos de Lula e dos oito anos de FHC.

Agora, esperamos que a disciplinada Dilma Rousseff se imponha diante do mundo e seja uma vigilante para evitar que gente como Erenice Guerra seja uma maçã podre a causar estrago em sua administração. Que sua promessa de tirar milhões da miséria e gerar emprego seja realmente uma de suas principais metas.

Misto Quente

A VERGONHA EXPOSTA: Sempre questionei aqui a parcialidade e a incoerência do jornal Globo ao se colocar a serviço da oposição. Achava estranhíssimo ver, além do seu corpo de jornalistas, intelectuais, cientistas políticos, analistas econômicos e colaboradores centrados num só objetivo: falar mal do governo e provocar desconfiança em relação à candidata Dilma Rousseff. Serra era o virtuoso, Dilma a dúvida e a inexperiente. Alguns amigos acharam exagero meu.

A VERGONHA EXPOSTA II: Eis que a vergonha se expôs pela própria crítica publicada na véspera do 2º turno. Defensora ardente da liberdade de expressão, sem nenhum pudor, ainda que de forma capenga, teve que rever sua postura na própria casa, publicando no dia 29/10: - “Nestas eleições, pela primeira vez, o estatuto interno do Globo liberou os colunistas a declarar o voto e tomar posição no embate entre os candidatos - para os jornalistas de Redação, no entanto, continua proibido.

A VERGONHA EXPOSTA III: O colunista Veríssimo, respirou aliviadíssimo e, com seu alvará de soltura, abriu o voto em favor de Dilma. Já os outros, como Zuenir Ventura, Caetano Veloso, Cora Rónai e Cacá Diegues buscaram a neutralidade. Figuras como Ricardo Noblat, Roberto DaMatta, o raivoso espumante Arnaldo Jabor e Nelson Motta optaram por Serra. Já Merval Pereira e Míriam Leitão são casos perdidos, pertencem ao quadro dos tarefeiros. O Globo paga muito bem a quem segue seu estatuto. Afinal, liberdade de expressão tem limite e depende de alguns princípios capitalistas, segundo o famigerado jornal.

VOTOS E PRECONCEITO: Muitos eleitores frustrados da oposição extravasaram seu ódio e preconeito em microblogs contra o povo nordestino, acusando-os de responsáveis pela eleição de Dilma. Só que entre os dezesseis estados em que saiu vitoriosa, Dilma venceu Serra também em Minas Gerais com uma diferença de 16,90%, no Rio de Janeiro de 20,96% e no Distrito Federal de 5,62%.

BARACK ABATIDO: Os conservadores americanos esperaram a hora do bote, depois do recolhimento diante da pressão popular que forçou a eleição de Barck Obama, que agora chamam de mulçumano e marxista. É o que faltava para tomar fôlego e estimular o eleitorado insatisfeito com o curso da economia que não conseguiu ainda sair do atoleiro que o ex-presidente George Bush lhe deixou como herança.

BARACK OBAMA II: Além da pecha de mulçumano e marxista, o fato de ser negro foi demais para os conservadores brancos, que fingem para o mundo não tolerar o preconceito racial. Isso e mais a brutal queda do poder de consumo numa sociedade altamente capitalista deixam o americano muito irritado. Sem maioria no Congresso, Obama e os democratas caminham para uma derrota em 2012. Já por aqui, a presidente Dilma tem a Câmara a seu favor, pelo menos numericamente. Resta saber como os deputados e senadores irão se comportar.

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