PORTUGAL E NOSSO ATRASO
Estou acabando de ler “1808”, excelente livro do paranaense Laurentino Gomes, resultado de dez anos de pesquisa, ótimo presente que os pais deveriam dar aos jovens filhos no encerramento de 2010, mas que ainda podem fazer comemorando a chegada de uma mulher ao poder depois de 510 anos de nossa turbulenta história.
Muitas coisas já sabia sobre a tumultuada vinda da corrupta, medrosa, fedorenta, fuxiqueira e atrasada corte portuguesa para cá, mas o escritor foi fundo e detalhista em sua investigação sobre o modo de vida da corte e a fragilidade econômica do mais atrasado país europeu que, modelada pelo poder inquisitorial do rançoso e alienado catolicismo medieval, acabou aprofundando raízes de uma cultura que nos deixou em grande desvantagem em relação aos outros países, principalmente dos Estados Unidos, descoberto dois antes do que o Brasil.
A chegada de D. João marca 308 anos de colonialismo, de exploração extrativista, que se estende com D. Pedro II a 388 anos com o agitado mercado de negros trazidos aos milhões para cá, enriquecendo a elite. Diferente da visão protestante que estabeleceu as bases para o surgimento da nação mais poderosa do mundo, a preguiçosa elite portuguesa considerava o trabalho uma atividade aviltante, uma espécie de castigo, própria para os negros, tratados como semoventes, animais de carga.
Se analisarmos bem, o advento da República não significou melhora alguma para os negros, mulatos e brancos pobres, abandonados à própria sorte em casebres miseráveis nos morros e no entorno das cidades. Então, o Brasil como projeto político só começa mesmo com Getúlio Vargas em 1930, enfrentando a força dos políticos que representavam a elite paulista, mineira e carioca no parlamento. Até para criar a Petrobras em 1954, que os americanos não queriam, foi necessária a campanha popular do “O petróleo é nosso”, porque lideranças de direita acreditavam que essa medida iria enfraquecer seu poder. É o que o jornal O Globo acha agora quando os fundos de pensão dos trabalhadores, dispondo de bilhões em caixa, compram ações de empresas estratégicas e exercem peso político.
Depois de Getúlio, a esperança era Goulart, que ameaçou as feras, até então recolhidas, e acabou apeado do poder, causando uma ruptura no processo de desenvolvimento que a esquerda alimentava. Pós ditadura, Fernando Henrique foi o suspiro da direita que quase entrega a Petrobras. Com Lula, o Estado volta a ter força e passa a ser o principal indutor do crescimento, com o BNDES abrindo bilhões de crédito às empresas nacionais.
Agora, essa gente tem que engolir uma ex-guerrilheira prometendo acabar com a miséria e alavancar mais ainda a economia do país. E vê-la indicando para o Ministério da Ciência e Tecnologia o jovem petista Aloizio Mercadante é animador, que já estuda uma forma de trazer de volta brasileiros, de alta formação acadêmica, que migraram para o exterior porque aqui não havia campo para o desenvolvimento de suas atividades de pesquisa. Segundo ele, o Brasil está formando cerca de 50 mil mestres e doutores, mas há apenas um engenheiro para 50 formandos, enquanto a Coreia do Sul forma um para cada quatro. Então, sem ciência e tecnologia o país não consegue avançar e disputar mercado com os outros países. O País já entrou em seu rumo, agora é avançar mais e saber defenestrar das instituições quem não tem competência e os que só querem fazer política partidária.
MISTO QUENTE
O INCÔMODO LULA: A imagem de Lula, que sai do governo com 87% de popularidade, vai continuar incomodando os partidos de direita e mais ainda a imprensa que os apoia. Eles têm a dificil tarefa de desgastá-la, preocupados com 2014. Agora, até o festejado colunista Merval Pereira usa seu imenso espaço no Globo para criticar Lula e sua família, que merecidamente, convidados, foram descansar no Forte dos Andradas, no Guarujá. Merval fala: “como é difícil para o ex-presidente se desligar das modormias do poder que usufruiu nos últimos oito anos”.
O INCÔMODO LULA: Ora, mesquinharia, perseguição vergonhosa que se utiliza de qualquer coisa para tentar ridicularizar um presidente que incansável e brilhantemente trabalhou por oito anos para colocar este País no rumo do crescimento econômica e do desenvolvimento social. Merval continua, como o Globo determina, cumprindo sua tarefa.
BELO ORÇAMENTO: A exploração do petróleo em nossa costa enriqueceu Macaé através dos impostos das empresas aqui sediadas e dos royalties. Sem ele e consequentemente elas, o município continuaria com sua pacata vida, com seus 50 mil habitantes e nenhuma outra atividade, além do fraco comércio, a lhe garantir o formidável número de funcionários públicos. Para 2011, a Câmara aprovou o espetacular orçamento de R$ 1,3 bilhão. O que fazer com ele? Eis a questão que a comunidade precisa saber. Marcadores: MISTO QUENTE
LULA: COMBATEU O BOM COMBATE E O POVÃO GUARDOU A FÉ
Apesar da postura neoliberal e elitista dos que detém os meios de comunicação e ainda exercem forte influência no Legislativo e Judiciário, a democracia traz em sua essência o contraditório, a possibilidade de um vir a ser capaz de alterar profundamente uma ordem social, o status quo, ou seja, o estado das coisas que só contribuem para o bem estar dos mais poderosos.
Um operário das lutas sindicais e das greves que amedrontavam a ordem então vigente, conseguiu essa façanha, de estremecer a espinha dorsal do capitalismo selvagem e dar-lhe uma feição mais humana com a distribuição da riqueza produzida pelo trabalhador, mas com maior acúmulo em apenas 10% da sociedade. E mais, conseguiu tirar da boca dos poderosos a amaldiçoada pecha de subversivos, que até então interessava ao regime e à mídia de direita apontar, com conotação política, aqueles que simplesmente buscavam seus direitos. Lula amargou uma prisão por causa disso, por “incitar o povo à subversão da ordem vigente”, que eram apenas salários mais dignos, com associação à mais valia exposta por Marx em O Capital.
Aliás, oportuno lembrar e citar aqui a resposta que o catedrático da cadeira de Sociologia da Universidade Georgetown, William Douglas, em entrevista quando do meu curso (1992) no George Meany Center, nos Estados Unidos ( Silver Spring – Maryland). Perguntei-lhe: professor, no Brasil, quando o trabalhador se vê obrigado, em última instância, a recorrer ao movimento de rua para reivindicar seus direitos, é sempre tachado de subversivo. Como vê isso? Ele esboçou um leve sorriso e foi direto: “Ora, nós tivemos aqui nos Estados Unidos muitos subversivos, como George Washington e Thomas Jefferson, que se rebelaram contra a opressão inglesa. Quando a ordem social é injusta, é bom que haja muitos subversivos para mudá-la”.
Depois de 308 anos, nem com a fuga de D. João VI para cá, com medo de Napoleão, acompanhado de grande comitiva ociosa e burocrática, o população brasileira viu perspectivas de melhoria em sua condição social. Aliás, muitos tiveram que deixar suas casas para acomodar a Corte e cerca de 15 mil portugueses arrogantes e autoritários. E mesmo com a abolição da escravidão em 1888 e do surgimento da República 1889, nada mudou até a revolução liderada por Getúlio Vargas (1930), que se viu forçado a implantar uma ditadura depois para poder enfrentar as oligarquias com sua política do café-com-leite, os latifundiários de São Paulo com o café e os mineiros com sua extensiva criação de gado, que dominavam cartórios com as grilagens e o Congresso Nacional.
João Goulart, que seria mais um avanço, acabou sendo chamado de comunista e apeado do poder (abril de 64), já que suas reformas preocupavam seriamente os americanos, os latifundiários e a mídia de direita de braços dados à famigerada Tradição Família e Propriedade (TFP). Então, só depois dos desastrados Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique com seu neoliberalismo entregando o país às multinacionais, surge o metalúrgico Lula como uma luz no fim de longo túnel.
Tornou ele o país respeitado mundialmente, livrando-o da vegonhosa “relação carnal” com os Estados Unidos, mantendo a inflação sob controle, aquecendo o mercado interno com o povão usufruindo de crédito fácil, concedendo o Bolsa Família a milhões de excluídos, expandindo a construção civil, construindo 274 escolas técnicas, elevando o poder aquisitivo do trabalhador, garantindo ao país uma reserva de mais de US$ 200 bilhões, reativando a indústria naval, estimulando através do BNDES o crecimento das exportações e, com a economia pujante e em expansão, deixa o governo com 15 milhões de empregos com carteira assinada e uma aprovação popular de 83%. Pode descansar e dormir em paz com sua consciência de pau-de-arara que foi, porque, de fato, nunca, na história política deste país, um presidente tenha deixado o cargo com 87% de aprovação popular.