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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O QUE O AMOR E A PAIXÃO PODEM FAZER POR UMA CIDADE

O município de Quissamã tem um rico tesouro, preservado com muito carinho e organização, garimpado com garra e paixão, de valor mais precioso do que o ouro, que é a sua própria história, a vida e o modo de ser de sua gente, narrada e artisticamente documentada, desde a força escrava do trabalho, o canto lamentoso da senzala, ao cotidiano criativo da freguesia em volta da mais antiga usina do Brasil, que marcou o forte ciclo do açúcar e o poder dos barões e viscondes, desde os tempos imperiais.

Por trás dessa garimpagem ao longo do tempo, colhendo fotos dos antigos casarões e solares, o artesanato caseiro expressando a cultura local, a habilidade profissional dos trabalhadores, obras pictóricas, documentos cartoriais desde o Império e registrando depoimentos dos mais antigos, há gente muito especial, Helianna Barcellos, uma mulher de fibra, guerreira na defesa da natureza, que traz nas entranhas um profundo amor à terra onde deixou seu cordão umbelical.

Ela nasceu na Vila Operária e teve como herança genética as qualidades do pai, um homem de espírito dinâmico, curioso e amante do saber, com capacidade laboral polivalente, um autodidata que enriqueceu seus conhecimentos com um “professor mudo”, ou seja, um velho dicionário que constantemente consultava. Foi admirado orador e, tão interessado nas atividades culturais da comunidade, chegou a criar um jornal, divulgando as atividades esportivas, musicais e os eventos sociais.

Mas com sua economia centrada na monocultura da cana e ainda distrito de Macaé, Quissamã, quando Heleninha nasceu em 1936, só contava com o ensino primário. Por isso, após a quarta série, seus pais resolveram mandá-la para Macaé, alojando-a numa pensão para meninas, onde fez admissão e ingressou no velho Ginásio Macaense, localizado em frente ao Cine Teatro Santa Isabel, que a administração pública não conseguiu preservar. Com brilho nos olhos, lembrou de alguns jovens que foram seus colegas, como Marcelino Pereira e Helcio Mussi, e os professores padre Jason, Pierre Tavares, Jacira Duval, Letícia Carvalho, Léa Tatagiba e Miguel Ângelo.

Em 1949, a família se muda para Niterói, então capital da Velha Província. Lá casou e da habilidade em corte e costura para noiva descobriu a pintura, especializando-se na fina arte sobre porcelana, com muitas obras que a levaram a participar de várias exposições, chegando a expor trabalhos em Houston (Shamrock Hilton), onde se encontrava com a filha para tratamento de saúde.

O amor a terra fê-la retornar com mais assiduidade na década de 70. Diz que ao andar pelas ruas e conversar com as pessoas sentiu um vazio, um vácuo cultural, um ar de desânimo, pois parecia que a comunidade alimentava uma certa vergonha pela decadência. O apogeu do açúcar, embora ainda com resquícios escravocratas pós-abolição, agora não somente de negros, foi ficando para trás. O lugar, que chegou a ter moeda própria cunhada pela Usina Central (estranhamente 10% mais valorizada do que o dinheiro do país na hora da troca), dominando o trabalho e o comércio, ficou com sua identidade submersa. Lamentou Helianna, afirmando que estava faltando trazer à luz a verdadeira história do povo, da cultura africana, da gente simples, acolhedora e trabalhadora que ela viu nascer e ali permaneceu. A história dos viscondes e barões estava escrita e ela já conhecia bem, não a empolgava.

Daí surge uma forte inspiração, a motivação para voltar e lutar pelo resgate da história, buscando o acervo em instituições, residências e no patrimônio arquitetônico um tanto arruinado, além de colher reminiscências populares com os mais antigos. Através de sua pintura em porcelana retratou cenários, casarões, utensílios e instrumentos, obras da criatividade local, que marcam a vida do lugar no tempo. Só de atividades profissionais foram catalogadas 70 (setenta), a maioria não existe mais. Até esteiras de taboas, feitas pelas mulheres dos operários, eram vendidas e usadas pela usina para ajudar no resfriamento de tubulações e equipamentos, pois absorviam e conservavam água em abundância.
Com esse rico acervo obtido, dona Heleninha foi mais à frente. Com o apoio da família, resolveu adquirir um terreno na Estrada do Correio Imperial e logo levantou uma bela obra com 400 m2, em meio à restinga preservada, que se transformou no “Espaço Cultural José Carlos de Barcellos”, homenageando seu esposo falecido. E penetrando mais ainda na alma de sua gente, ela fez praticamente uma radiografia histórica, desenhando o mapa da cidade sobre azulejos e nele foi identificando as ruas e a residência das antigas famílias, fazendo questão de citar a profissão de cada um dos chefes.

Quem quiser conhecer essa bela história de Quissamã, contada e exposta com muita organização através de fotos, documentos originais, materiais como telhas e tijolos dos tempos imperiais, instrumentos musicais, moedas, utensílios, coleções de pintura em porcelana, e ainda num silencioso e agradável lugar, é só ligar para dona Helianna Barcellos (22-2768-1365 e agendar uma visita.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O AGUILHÃO PENETRA FUNDO NA ÉTICA DA OPOSIÇÃO

As imagens são contundentes e convincentes, dispensam as maracutaias verbais entre o governador Roberto Arruda e seu secretariado com Durval Barbosa, responsável pela intermediação dos negócios escusos entre o governo do Distrito Federal e empresários. Nem com muita arruda nas orelhas e os três advogados contratados com capciosos ardis e subterfúgios poderão livrar o governador do severo julgamento popular.

Se esse caso acontecesse nos Estados Unidos, a execração pública provocaria perda de mandato e cadeia, na certa. No Japão, pior, a vergonha de encarar a opinião pública poderia, como antigos samurais, levar o corrupto ao suicídio. Aqui, conhecendo bem as entranhas da rede que ajudou a montar, os benefícios que ela concedeu aos aliados e o tal vício da amizade, o governador Arruda sente-se à vontade para ameaçar, a jogar merda no ventilador se o deixarem sozinho com a culpa. Foi isso que levou o jovem deputado Rodrigo Maia, presidente nacional do DEM a diminuir seus arroubos moralistas e pedir prudência aos seus aliados na análise do caso.


A Caixa de Pandora foi aberta e agora a oposição (DEM, PSDB e PPS) terá que descer dos sapatos altos e, envergonhada, calçar as sandálias da humildade e tentar purgar seus pecados políticos, sabendo agora, com muita dor, que quem ferro fere pode ser ferido.

As negociatas do DEM vêm de longe (2006), registradas em 300 horas de gravação, desde quando, com apoio da imprensa tendenciosa, assoalhava, com estardalhaço, o mensalão do PT.

Quando o presidente Lula, à distância, lá em Portugal, diz que “a imagem não fala por si”, ele apenas quis evitar uma crítica severa antes que as autoridades competentes falem no processo.

Mas O Globo, em manchete de primeira página, dolosamente extrai essa frase de seu pequeno pronunciamento e tenta criar a imagem de que o presidente Lula é frouxo em relação à ética, com a conotação de que está habituado a esse jogo de cartas marcadas. Para não amenizar a campanha que vem sendo feita contra sua popularidade, só faltou dizer que ele concorda com a corrupção eleitoral.


A época em que a elite manipulava o voto de cabresto para manter o poder cartorial e o latifúndio já vai longe, graças à ousadia do trabalhismo de Getúlio Vargas, mas que tem ainda voz no Congresso Nacional através de figuras que têm origem na UDN e seguiu apoiando a ditadura através da famigerada Arena, depois PDS, PFL e agora DEM. Mudaram tanto de sigla que, desarvorados, perderam o rumo da história que o país começa a construir com uma política mais independência e centrada no oprimido, como governo petista vem conseguindo implantar. O medo deles é a eleição de Dilma Rousseff e a consolidação desse espírito de governabilidade, apesar dos aloprados, dos invejosos e inconformados com o “jamais na história deste país...”

EM TEMPO

PROPOSTA RUIM: Políticos do sudeste cochilaram, deixaram governadores do nordeste sair na frente com uma proposta que prejudica o Estado do Rio com o marco regulatório que vai definir o percentual de distribuição dos royalties em relação as reservas do pré-sal. Aliás, no mapa que O Globo publicou na quarta, dia 2, a Bacia de Campos vai dos limites do Espírito Santo a Arraial do Cabo, de onde começa a Bacia de Santos. O nome de Macaé, principal base da Petrobras, nem é citado.

OS MAIA: Crítico sarcástico do governo Lula, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM) tem agora um assunto cabeludo para se ocupar no ambiente doméstico e perante a opinião pública do Rio de Janeiro: a CPI da Cidade da Música indiciou seu pai e mais sete envolvidos naquela obra inacabada que vai ter um custo final de R$ 700 milhões, 600% a mais do previsto.

Em Macaé, o ex-prefeito Sylvio Lopes gastou mais de R$ 30 milhões no Parque da Cidade, onde o povão não entra, por ser cercada e não dispor de atração nenhuma. Por falar nisso, o que faz o deputado por Macaé?

CÂMARA NA TV: Por mais de oito anos Macaé Jornal deu completa cobertura aos trabalhos da Câmara Municipal, publicando, com fotos, em página inteira, os principais pronunciamentos dos vereadores, sem cor partidária e nenhuma contrapartida financeira. Hoje, uma TV, certamente bem paga, coloca à disposição da comunidade os trabalhos dos nossos representantes. Está faltando melhorar o som e os destaques (closes).

LIXÃO: Seria bom a administração municipal seguir o exemplo do prefeito Eduardo Paes com seu choque de ordem. Em frente à Auto-Escola Tradição, do nosso amigo José Carlos, trecho do passeio está sem calçamento, onde estão sendo depositados restos de móveis e lixos diversos. Um absurdo.