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sexta-feira, 28 de maio de 2010

LULA DERRUBA PROTAGONISMO AMERICANO

Um dia a casa cai, como aconteceu com Babilônia, Egito, Grécia, Pérsia, Roma, União Soviética e até o poder da "Santa Igreja" de querer controlar a ciência e matar na fogueira. Agora, um simples nordestino, nascido sob a luz de lampião numa casinha humilde num abandonado sertão, balança a consciência do império americano e, diante da perplexidade mundial, desnuda a farsa de sua geopolítica. Foi o que se viu com a irritação da secretária de Estado Hillary Clinton e a estupefação dos jornalões brasileiros, em face da ousadia do governo Lula em assumir a dificílima mediação no caso Irá e ainda obter de Mahmoud Ahmadinejad o acordo que todos achavam impossível, deixando o grupo dos cinco poderosos numa sinuca de bico. Humilhado por um país emergente que deseja o diálogo e não a prepotência dos que se fiam no poder das armas, o governo Obama diz não aceitar os termos da carta enviada à Agência de Energia Atômica e que vai insistir na adoção de medidas econômicas para demover o Irã de seu intento de continuar com seu programa nuclear.

É lamentável a posição dos jornais O Globo e Folha de S. Paulo, que, por puro preconceito e alinhamento aos interesses americanos, vêm desdenhando a atuação do ex-operário Lula e tentando ridicularizar nossa diplomacia, a todo momento chamando-a de "terceiromundista e diplomacia do B", embora analistas de peso e a imprensa europeia enalteçam o carisma e a coragem do presidente em assumir tão espinhosa e isolada missão nesse cenário de intolerância e ameaças de guerra por aqueles que possuem arsenal nuclear.

É lamentável essa postura dos Estados Unidos ao levar nações à beira do abismo com sua arrogância, enquanto o Brasil procura mostrar que o melhor caminho é o diálogo, a paz entre os povos. E aí vem a pertinente pergunta de Lula: por que os que têm bombas atômicas não destróem as suas? Até quando os Estados Unidos vão continuar dizendo o que os outros podem ou não fazer? Ora, o mundo mudou e o Irã não é o Iraque e muito menos o Afeganistão. Nem mais aquele país da década de 50, quando os Estados Unidos, por causa da nacionalização das reservas de petróleo iranianas interviram e impuseram o submisso governo de Reza Pahlave. E não é mais o país da decada de 80, quando os americanos traficaram armas de Honduras para o Irã com o objetivo de levá-lo a massacrar o Iraque de Saddam. Rumoroso caso que ficou conhecido como Irã-Contras (a CIA por trás dos Contras no combate à Nicaragua), comandado pelo tenente-coronel Oilver North, chefe do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Atacar o Irã hoje será uma catástrofe de proporções inimagináveis. Depois do Vietnam, de onde sairam com o rabo entre as pernas, quando os americanos irão se curar da paranoia alimentada pelos belicistas e aprender que há outros caminhos a trilhar?

Como se vê, vem de longe a intenção dos Estados Unidos enfraquecer o Oriente Médio e tomar conta de suas riquezas. Segundo Nicolau Maquiavel, "o poder se fundamenta em atos de força", por isso é preciso manter os fracos sem o poder das armas, como a história da humanidade sempre mostrou.

Para inconformismo do jornal O Globo, que faz campanha de Serra o tempo todo evocando a maculada liberdade de opinião, o jornal francês Le Monde diz que o presidente Lula não se apoia "apenas em seu carisma para falar alto e forte, mas encarna um Brasil em plena forma". E que "o mundo não ouviu tudo o que tinha para ouvir do antigo metalúrgico, amigo das favelas e dos investidores". Já o britânico The Guardian diz em seu editorial que as sanções propostas pelos americanos são uma bofetada nos esforços de negociação do Brasil e Turquia, e que num mundo multipolar Barack Obama não pode simplemente fazer isso. E, para finalizar, o The Wall Street Journal afirma que a culpa é de Obama, que, num perigoso jogo duplo, incentivou a diplomacia de Lula.

MISTO-QUENTE

INELEGÍVEIS: Embora por votação apertadíssima (4x3), o TRE tornou inelegíveis, por três anos, a contar de 2008, o pré-candidato a governador do Rio Anthony Garotinho (PR) e sua esposa, a prefeita de Campos Rosinha (PR), que também tem seu mandato cassado, por abuso de poder econômico e propaganda eleitoral irregular. Ambos recorrerão ao TSE. Caso confirmadas as punições, haverá nova eleição para prefeito.

INELEGÍVEL: Garotinho deixa o governador Sérgio Cabral felicíssimo, pois livra-se de dois graves problemas: as críticas contundentes que ele e sua esposa vinham recebendo e o palanque de Garotinho, que exigia a presença da candidata petista Dilma Rousseff.

PURO-SANGUE: A sonhada chapa puro-sangue da oposição poderia virar cavalo paraguaio, deve ter maturado o ex-governador Aécio Neves, naturalmente seguindo a malandragem política do avô Tancredo. Com faro fino, Aécio pesou a popularidade de Lula e viu que será muito arriscado jogar uma cartada que poderia deixá-lo fora do meio político ativo. No fundo, acha também que Serra não tem estrutura psicológica para aguentar o tranco petista e seus aliados. No último debate, cometeu a burrice de chamar o presidente boliviano Evo Morales de cúmplice do tráfico de cocaína.

PURO-SANGUE II: Aécio Neves (PSDB) e seus aliados do DEM e PPS dizem que Serra é o candidato mais preparado, mas ninguém da oposição quer estar ao seu lado como vice. O sanador cearense Tasso Jereissati, por exemplo, chegou a dizer que não poderia ser porque não aceitaria levar bronca de Serra e que, se fosse escolhido, haveria crise entre os dois logo no começo. Ora, se o mais preparado não sabe lidar com um companheiro de partido, não tem condição de governar o país.

FICHA SUJA: Entre os 46 deputados que nos representam na Câmara Federal, 14 estão na lista dos fichas sujas e, entre estes, infelizmente, o nosso (Macaé) Sylvio Lopes (PSDB), que responde a cinco processos no TJ-RJ e no TRF-2, além de dois inquéritos no STF, por improbidade e por crime contra a lei de licitações, assim como no TRE por crimes eleitorais e um questionamento no TCU. Ele foi procurado para responder mas não atendeu.

FICHA SUJA II: Por falar nisso, como não temos conhecimento de benefício algum para nosso município, é bom que seus eleitores saibam o quanto os contribuintes gastaram para sua atuação na Câmara: cerca de R$ 5,2 milhões em três anos e cinco meses de mandato, segundo a Transparência Brasil. Representação caríssima, sem nenhum retorno. na Assembleia a situação não é diferente, pois dos 70 parlamentares 37 estão envolvidos em algum tipo de crime.

FICHA SUJA III: Segundo se comenta, o ex-prefeito Sylvio vai concorrer agora à Assembleia. Não sabemos se o filho Glauco vai se lançar a federal, disputando com o médio Aluísio Santos, que vai pelo Partido Verde de Marina e Gabeira.

RIVERTON: Ao inaugurar a bela reforma do antigo Colégio Raul Veiga (hoje Mathias Netto) feita pelo governo do Estado, o prefeito, em seu discurso muito emocionado, porque ali estudou quando criança, anunciou que em julho, mês de aniversário do município, vai doar cinco mil computadores para alunos da rede, que tem cerca de 34 mil jovens matriculados. Os demais também serão contemplados mais à frente.

QUEM DIRIA: Depois de 70 anos cerceando a liberdade, prendendo, torturando e liquidando gente simpres e milhares de pensadores brilhantes, a Rússia hoje ajoelha-se diante do poder capitalista americano e fica contra o Irã. Aqui, o ardoroso ex-comunista Roberto Freire funda o PPS, fica contra o trabalhador e alia-se aos antigos arenistas.

AZUL: Companhia aérea do empresário paulista David Neeleman, que viveu a maior parte de sua vida nos Estados Unidos, depois de peitar a rejeição do governo do Estado do Rio e a tentativa de boicote dos concorrentes, dá exemplo de fé no mercado brasileiro e de mente aberta. De uma frota de 15 aviões, todos feitos pela Embraer, projeta crescer 200%, passando para 40 aeronaves. Com poucas rotas, sem escala, aposta na classe C, oferecendo passagens baratas e futuramente com preço dividido em quatro vezes. Uma viagem de ônibus entre Campinas e Salvador leva 37 horas e custa R$ 229, mais caro que o avião da Azul - R$ 150 - que leva poucas horas.

AZUL II: Os privatistas do PSDB-DEM não vão gostar, mas Neeleman diz que não é fã da privatização. Segundo ele, nos Estados Unidos não há aeroporto algum de importância que seja privatizado.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

ENTREVISTA: AMYRA EL KHALLIL

Com a vinda da escritora palestina Amyra El Khallil a Macaé para participar da III Feira de Responsabilidade Social Empresarial Bacia de Campos, aproveitei a excelente oportunidade para entrevistá-la antes de sua palestra sobre "Commodities Ambientais e Negócios Sustentáveis", abrindo o ciclo de palestras que contou com outras autoridades no assunto nos dias 19, 20 e 21. Ela é também professora pós-graduada em Commodities Ambientais e idealizadora do Projeto BECE – Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais.

- No seu olhar, em que nível estamos na prática, na forma de agir, em relação ao meio ambiente e à questão da sustentabilidade social, assuntos por demais debatidos e explorados no mundo inteiro?

AMYRA – Ainda estamos muitos distante da prática do que significa sustentabildade, até por que a gente também não tem isso muito bem claro e definido, uma questão que pode ser entendida por várias línguas diferentes e grupos diferentes. Essa palavra está hoje vulgarizada, utilizada para qualquer tipo de argumentação, se apropriaram dela e tentam usá-la de qualquer forma. A verdade é que estão tentando pintar o meio ambiente de verde, que já foi muito degradado em função dos impactos cometidos em nome do desenvolvimento. Então, não se pode falar em meio ambiente sustentável se não falar de finanças sustentáveis, de cadeia produtiva sustentável, de empréstimos e financiamentos sociais que sejam sustentáveis. Relações assistencialistas ou as relações de dependência não são sustentáveis. Desenvolver projetos sociais que não se liberta a pessoa, que não dá alternativa para que essa possa ter decisões, que seja também ator e não tenha poder de discutir seus projetos, suas atividades, seus anseios, não reflete exatamente o significado de sustentabildade.

- Somos um país capitalista, em que o foco é o lucro a todo custo, regulado por leis do mercado. Como conciliar a perseguição do lucro, o meio ambiente equilibrado e a questão social tratada com convém?

AMYRA – Para falar de sustentabilidade numa economia de mercado, a gente tem que entender que os atores desse sistema precisam se ajustar a esse novo conceito. Não vamos deixar de consumir o que consumismo diariamente, mas podemos mudar a forma de consumo. Aprendemos a usar a tecnologia que o sistema capitalista nos ofereceu, mas é claro que o capitalismo está se degradando, se corroendo e corrompendo, porque o sistema erra ao visar o lucro pelo lucro. Lucro quer dizer lograr êxito e lograr êxito pode ter outro sentido e não necessariamente ganhar dinheiro sobre aquilo que se produz, da forma como se ganha esse dinheiro. Isso poderia ser de forma ética, com a preocupação de não lesar o outro que está na outra ponta da cadeia produtiva ou na cadeia de comercialização. Há uma dispersão de conceito e de palavras porque houve uma distorção de moral ética - o capitalismo selvagem, o modelo neoliberal, o modelo autofágico - fadado ao fracasso, porque ele altamente excludente e impactante e é até escravagista. Vamos pegar um exemplo prático: o cartão de crédito. Todos usamos esse sistema. Se a gente deixa de pagar o estipulado e paga pelo mínimo, acontece como na crise de 2008 para 2009, quando os bancos puxaram a taxa de juros de 8% para 16,5%, no momento mais terrível, quando muitos não tínham condições de honrar os compromissos. A ganância financeira deles extrapolou, ao ganhar 16,5% ao mês de juros, deixando muitos endividados. Esse é o capitalismo selvagem, como diz Mark Twain: - "Banqueiro é o cara que te dá o guarda-chuva quando faz sol e tira o guarda-chuva quando começa a chover".

- O que é exatamente esse seu "Projeto Bolsa de Commodities Ambientais"?

AMYRA: Bem, projeto vem de projetar, por isso que a gente usa sempre a palavra projeto ante do nome da Bolsa, e BECE é uma sigla em inglês que significa "Brazilian Environmental Commodities Exchange, que a tradução para o português é "Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais". Mas a sigla BECE tem outro significado, que é B de banco, E de Economia, C de central E de ecologia. É uma forma de dizer ao nosso órgão regulador, o Banco Central, que faz a política monetária do país de que a nossa verdadeira riqueza e a moeda verdadeira do país são as riquezas naturais e a nossa agricultura, e não os papéis em lastro, baseados em títulos públicos, precatórios, operações financeiras, taxas de juros e esse sistema autofágico no qual estamos vivendo. O Brasil se saiu muito bem da crise, mas isso não significa que conseguimos resolver o nosso problema de especulação financeira internacional. Estamos sendo vítimas da agiotagem dos cartões de crédito e do sistema econômico que esta lá. Na crise, os bancos deveriam reduzir as nossas taxas, mas puxaram para cima, como fizeram nos Estados Unidos e arrebentaram com a economia americana.

- Quando a questão ambiental passou a ser objeto de preocupação mundial, começaram a surgir as entidades ambientalistas, que empresários apelidaram de "ecochatos". Essa visão mudou, o empresariado está mais consciente e os ecologistas menos radicais e mais racionais, olhando o todo? O projeto de Belo Monte, por exemplo, necessário para atender a demanda futura do país, mas que tem sido combatido. Com vê isso?

AMYRA – Quando iniciou o movimento ambientalista na década de 70, por causa de guerras e testes nucleares, houve um confronto no primeiro momento, surgindo, como é óbvio, diferença de questionamentos de grupos que defendiam seus interesses. Mas quando foi ficando mais evidente e se provando cientificamente que as ações do ser humano estavam gerando impactos ambientais que podem prejudicar a vida na terra esses conceitos foram mudando. As empresas começaram a entrar na questão ambiental, mas muitas delas acham ainda que vão ganhar muito dinheiro com meio ambiente, ou ainda especulando a respeito disso. A questão energética passa pela questão do modelo econômico, o modelo econômico que você vai adotar para mudar energia. James Lovelock, que escreveu "A vingança de gaia", que é conhecido como um dos grandes ambientalistas mundiais, já disse que o modelo energético que movimento ambientalista prevê, que são as energias renováveis, não será suficiente para suprir a energia que a humanidade precisa. E sugere a adoção da energia nuclear. É claro que ele fala de um fato real, factível, baseado no modelo econômico que você vive. Ora, se você precisa de muita energia, a renovável não vai suprir. Belo Monte é um problema, não só na questão ambiental, mas da distribuição dessa energia. A questão é: o que vai se sacrificar na sociedade para entregar alguma coisa para alguém. Quem é esse alguém.e o que ele fará com isso em prol dessa sociedade como um todo? Se você entra num modelo econômico industrializado, que tem que atender todas essas posições de mercado, escala de produção, fatalmente vai precisar de várias Belo Monte, energia nuclear para se sustentar. O custo social que se paga é alto, por isso precisa ser questionado.e discutido com a sociedade, e não apenas em portas fechadas entre governo e empresas.

- Temos uma primeira vez neste país, duas mulheres, de forte personalidade, candidatas à presidência da República: uma focada no verde, na questão ambiental, e outra com visão desenvolvimentista, o Brasil grande economicamente. Como vê essa ousadia?

AMYRA – Em primeiro lugar acho importante ver a figura feminina nessa disputa, que foi sempre dos homens. Estamos tendo agora mulheres presidentes na América Latina. Nosso continente tem a rotulagem de ser machista. Mas meu olhar não é pelo gênero masculino ou feminino e sim pelo programa de governo. Para uma falta um projeto ambiental sustentável e para a outra falta um projeto econômico e financeiro. Seria maravilhoso se as duas se sentassem e afinassem essas posições..

- Qual sua dificuldade em relação ao meio empresarial, como lida com isso?

AMYRA - O meio empresarial é uma comunidade fechada entre si. E a tendência das grande empresas, com milhares de empregados, é criar feudos internos, com qualquer outro grupo. O ser humano quando se agrupo vira tribal ou feudo. Mas elas já falam em questão ambiental, porque também há leis que precisam ser observadas. Fui fazer outro dia uma palestra com uma consultora empresarial e eu falava da comunidade e ela falava: não, mas a empresa ajuda os funcionários. Quando eu falava em comunidade ela entendia que comunidade eram os empregados, a empresa e os donos da empresa. Então, quando ela entra dentro da empresa ela fechou a relação dela com o universo empresarial na realidade da empresa, como se empresa fosse um coisa, um mundo à parte.

- Nesse ambiente da relação trabalhista há grande espaço para um trabalho de conscientização social, do exercício de cidadania com visão holística, como se pode ver da postura dessa consultora, não é?

AMYRA – Dentro de empresas que já fiz treinamento em RH, bem antes de se falar em questão ambiental como agora, quando fui consultora em multinacionais e empresas governamentais, você tem outro cidadão lá dentro. Ele não é só funcionário da empresa, mas um cidadão que tem um primo desemprego, um tio doente, uma mulher que está sem trabalho e um filho que está estudando. Então, ele trabalha e tem sua cabeça também nessas coisas fora do ambiente da empresa, porque às vezes ele tem que dividir também seu salário com cinco ou seis pessoas de sua relação familiar.que estão fora do mercado de trabalho. Entre meus alunos de pós-graduação em MBA, há aquele que fica agoniado porque tem fazer um case pro trabalho de monografia dele e que o case tem que ficar bom para a empresa dele. Mas quando ele descobre que se ajudar a comunidade dele, na qual está inserido, e que aquela empresa está naquela região, ele está ajudando a empresa. dele, ele tem uma sensação de alívio e de libertação tão grande que vem me dar um abraço forte, dizendo: "professora, que bom saber que posso trilhar outro caminho, que bom saber que tenho outra alternativa...". Quando ele percebe que se a empresa dele puder reduzir o grau de investimento em segurança interna, como que protegendo um feudo, seu nobre capital, ele aumenta seu nível de percepção social.

- Está há quanto tempo nessa luta?

AMYRA – Na verdade sou ativista desde os quatorze anos de idade, porque sou palestina e entrei de forma consciente na causa palestina. Mas meu ativismo cultural começou na boca do lixo, no cinema, Joel Barcelos aí como remanescente de grandes cineastas e atores. Fui orientada por Osvaldo Rodrigues Candeia, que morreu 2006, que foi o papa do cinema marginal. E tudo que aprendi sobre exclusão social, a questão política e inclusive saber que era palestina foi com 14 anos de idade, porque minha mãe escondeu isso de mim, naturalmente com medo do que isso poderia me causar. Ela dizia que eu era jordaniana.

- Apesar de tudo que temos visto, você se sente otimista?

AMYRIA – Não podemos ficar parado, porque a inércia contamina, é contagiante. Mas não pense que a inércia é um problema de quem está afastado do centro urbano. Eu em São Paulo, na Vila Mariana, a dez minutos da Paulista, às vezes me sinto totalmente inerte, parece que não está acontecendo nada no mundo, porque a gente passa a se cobrar coisas fora do nosso alcance, sem pensar que temos nossos limites. Estar aqui agora, estou cumprindo minha missão e espero que seja produtiva, que tenha deixado aqui uma semente.

- Bem, como meu amigo Armando Rozário não pôde estar aqui, mande um abraço para ele.

AMYRIA - Armando Rozário, meu querido, eu quero dizer que você é uma pessoa que nós todos amamos, um grande jornalista, um grande fotógrafo, um grande ser humano. Aliás, quero registrar que ele acho um parente meu, que o maior pesquisador de terras palestinas, mandou o link para mim e eu mandei para ele a história de minha família.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

TRABALHEI COM UM EX-CAPITÃO QUE MATOU CINCO SOB TORTURA

- ELES AINDA ESTÃO POR AÍ, FALTA APENAS AMBIENTE PROPÍCIO -

Quando ministros do Supremo Tribunal Federal, no conforto de um ambiente refrigerado e atapetado, sob a negra beca, decidem considerar os torturadores da ditadura também anistiados e, portanto, livres de qualquer penalidade, embora praticantes de crimes hediondos imprescritíveis, como define a Constituição, lembro-me de um caso que coloca altas patentes militares, ou a própria instituição, em situação irrefutável de total envolvimento com o que acontecia em seus porões.

Em 1975, quando terminava faculdade em Campos, fui assessorar o superintendente da então Telerj, que administrava as telecomunicações de Casimiro de Abreu a Bom Jesus do Norte. A representação sindical era comandada pelo senhor Niebus, com sede no Rio de Janeiro, um coroa simpático, sempre em postura de humildade, que a ditadura manteve por muitos anos na presidência da entidade. Certo dia, no início dos anos 80, transferido do Rio de Janeiro, chega a Campos seu filho, Dalgio Miranda Niebus, sujeito de boa compleição física, comedido em sua relação com os funcionários da Seção Técnica, onde começou a trabalhar.
Não demorou muito, chegou, via sindicato da região, a informação sigilosa de que Dalgio não era um funcionário de carreira, mas um ex-capitão do exército condenado pela Justiça Militar a mais de 80 anos de cadeia por torturar quinze jovens soldados. O fato aconteceu em 1971(governo Médici), quando Dalgio tinha 29 anos e chefiava a 2ª. Seção do estado-maior do 1º BIB (1º Batalha de Infantaria Blindada), com sede em Volta Redonda, sob o comando do tenente-coronel Gladstone.

O caso só veio a furo porque um padre que havia sido preso no batalhão ficou sabendo e denunciou ao bispado, que de tão horrorizado apelou ao comando do Exército para se informar melhor e exigir punição dos culpados. O então capitão Dalgio fazia investigação sobre uso de maconha no quartel e chegou a prender quinze soldados de 19 anos. Com apoio de subalternos, levou-os para um prédio do quartel e ali fez de tudo: choques elétricos, palmatórias, pancadas com barra de ferro, socos, chutes e esmagamento de pés e cabeça de alguns num torno. Cinco deles morreram e o comandante arranjou um jeito de encobrir os crimes, mas, diante da pressão da Igreja, um inquérito militar foi aberto. Sob segredo de justiça, e o grupo condenado. As penas foram altas, mas ninguém ficou mais do que seis anos na cadeia. O capitão Dalgio, por exemplo, ainda ganhou um emprego na Telerj.

Sem nenhuma relação ideológica, esta monstruosidade mostra que, sob o manto do AI-5 e da ordem presidencial de matar todos os comunistas, grande parte dos militares, em nome da pátria e da liberdade, sentia-se à vontade para mostrar serviço. O brigadeiro Burnier, por exemplo, planejou explodir o gasômetro no Rio para depois iniciar uma caçada a muitos políticos por ele listada e lançá-los no mar. Só não conseguiu porque o capitão Sérgio Macaco, do Parasar, não concordou em participar desse plano sinistro. A bomba no Riocentro, que explodiu no colo do sargento Rosário e ao lado do capitão Wilson num Puma, foi outro plano sinistro felizmente fracassado, que visava a causar pânico e muitas mortes por pisoteio na multidão no show em homenagem ao dia do trabalho.

MISTO QUENTE

UMA FARSA?: Depois da justificativa engendrada pelos americanos para atacar o Iraque, a gente desconfia de tudo, como a inusitada bomba que não explodiu em Times Square, onde há grande afluência turística. E já apareceu o culpado, um jovem com vínculos no Paquistão. A CIA e o FBI precisam manter o povo aguçado, desconfiado, em estado paranóico. Isto justifica qualquer ação que o governo venha adotar para defender o país de forma preventiva, como invadir o Irã.

O GLOBO: Todos os colunistas e colaboradores deste jornal seguem a determinação, desgastar o máximo possível a petista Dilma Rousseff. Depois de explorar por bom tempo seu estado de saúde, usando sempre a palavra câncer, também impingindo-lhe a fama de autoritária, o jornal agora coloca-a como uma liderança frágil, desorientada, desinformada, dependente, que não sabe atuar sem a popularidade de Lula ao lado.

O GLOBO II: Já Serra, embora taciturno, autoritário e um perigo para o país, como definiu Ciro Gomes, é enaltecido como o mais preparado pelo simples fato de já ter enfrentado várias campanhas eleitorais. Num concorrido Congresso Internacional de Igrejas Pentecostais em Camboriú, apoiado pelo PSDB e financiado com dinheiro público, Serra, para se mostrar afinado com a idéia de pureza cristã, condenou os fumantes: -“Uma pessoa que fuma é uma pessoa sem Deus”. Preocupado com a repercussão dessa gafe, o jornal desmentiu no dia seguinte, alegando falha na comunicação. Depois que um pastor pediu à platéia que orassem por ele, Serra disse: - “todos os votos positivos, eu acolho. Aí o jornal não diz que estava fazendo campanha.

PT EM MACAÉ: O que o diretório está fazendo pela campanha da pré-candidata Dilma Rousseff, diante da grande imprensa que a critica constantemente? // Como sobre nosso deputado federal não sabemos nada, a esperança é o povo levar à Câmara o jovem médico Aluízio Santos // Ainda temos Adrian Mussi para a Assembléia Legislativa.